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BRASIL PODE ENTRAR EM NOVA ERA DE RACIONAMENTOS COM AUMENTO DO CALOR E REDUÇÃO DAS CHUVAS
Por Enrique Brazil
Publicado em 28/10/2025 09:04
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O Brasil pode enfrentar uma nova era de racionamentos de água nas próximas décadas. Segundo projeções, até 2050 o país deverá ter, em média, 12 dias de interrupção no abastecimento por ano — número que pode ultrapassar 30 dias em regiões mais secas, como o Nordeste e o Centro-Oeste.

Os dados são do estudo “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, divulgado nesta terça-feira (28) pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria Ex Ante.

De acordo com o levantamento, a demanda por água tratada deve crescer 59,3% nas próximas duas décadas, impulsionada pelo aumento das temperaturas, pela expansão urbana e pelo avanço econômico.

O estudo alerta que o aquecimento global, somado às perdas na rede de distribuição — que ainda chegam a quatro em cada dez litros tratados —, pode transformar a gestão hídrica em um dos principais desafios nacionais nos próximos anos.

“Os dados reforçam a urgência de agir agora. Se não reduzirmos as perdas e não planejarmos o uso sustentável, regiões já vulneráveis podem enfrentar escassez prolongada, com impactos severos na saúde e na qualidade de vida”, destacou Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil.

Temperaturas em alta e menos chuvas

As projeções indicam que, até 2050, a temperatura máxima nas cidades brasileiras deve subir cerca de 1°C, e a mínima, 0,47°C, em relação a 2023. Ao mesmo tempo, os dias chuvosos devem diminuir, e os episódios de chuva intensa se tornarão mais frequentes.

Na prática, isso significa menor reposição dos mananciais, aumento da aridez em áreas críticas e risco de desertificação em novas regiões do país.

Cada 1°C adicional na temperatura pode elevar o consumo per capita de água em 24,9%. Somados os efeitos climáticos e econômicos, a demanda total pode crescer 12,4% acima do previsto apenas pelo aumento populacional.

Desperdício e eficiência

Atualmente, 40,3% da água tratada no Brasil é desperdiçada por vazamentos, ligações clandestinas ou falhas operacionais. O volume perdido — 7 bilhões de metros cúbicos por ano — seria suficiente para atender toda a demanda adicional estimada até 2050.

Se o país conseguir reduzir as perdas para 25%, conforme prevê o Plano Nacional de Saneamento, a necessidade de produção cairia em cerca de 2 bilhões de metros cúbicos, reduzindo a pressão sobre rios, aquíferos e reservatórios.

“A eficiência é o ponto de partida. Reduzindo perdas, equilibramos oferta e demanda e garantimos o abastecimento sem esgotar nossos mananciais”, reforçou Pretto.

Urbanização e desenvolvimento

O estudo mostra ainda que o avanço do saneamento básico tem efeito direto sobre o desenvolvimento econômico. Cidades com 100% de cobertura de água e esgoto apresentam, em média, PIB per capita 4,5 pontos percentuais maior e salários 1 ponto percentual mais altos do que as demais.

A urbanização também influencia: cada ponto percentual adicional na população urbana eleva o consumo de água em 0,96%. Fatores climáticos, como temperatura, umidade e número de dias de chuva, também afetam o uso — cidades mais quentes e litorâneas consomem mais água do que as do semiárido, onde a oferta natural é limitada.

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